O Tríduo Pascal é constituído de três dias que celebram o Mistério insondável da nossa salvação.
No primeiro dia, celebra-se a entrega que Cristo fez de Sua vida até a morte; no segundo dia, celebra-se a Sua descida à mansão dos mortos e, no terceiro dia, o principal e mais importante, celebra-se a Sua santa e gloriosa Ressurreição, que O introduziu, para sempre, na Glória do Pai, e é penhor da nossa ressurreição.
Estejamos certos de que, se celebrarmos piedosamente e em estado de graça, estes santos mistérios, “podemos ter a firme esperança de participar do Seu triunfo sobre a morte e de Sua Vida em Deus” (Liturgia Romana, Introdução à Vigília Pascal).
Primeiro Dia: Por nosso amor, Jesus Se entregou ao Pai até a morte e morte de Cruz.
Este primeiro dia começa ao entardecer da Quinta-feira Santa. Para os judeus, o dia começava ao pôr do sol, de sorte que, do mesmo modo como, para a liturgia cristã, a tarde do sábado já conta como Domingo, também aqui, a Quinta-feira já nos introduz no primeiro dia do Tríduo. É o dia da entrega por amor: “Tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim” (Jo 13,1-2). Jesus realizou esta entrega de toda a Sua existência, de modo ritual, na Ceia derradeira e, de modo cruento, doloroso, histórico, na cruz do Calvário. É uma entrega só - a do rito e a da dura realidade da cruz; e esta entrega é a de toda uma vida vivida para o Pai e para os irmãos: “O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos” (Mc 10,45). Assim, aquela ceia eucarística, início de todas as santas missas do mundo, é já a celebração ritual do sacrifício de Cristo, através da qual o mundo foi salvo.
A Santa Igreja Católica celebra este Mistério em duas reuniões solenes: a primeira, na Quinta-feira à tardinha ou no início da noite, com a Missa na Ceia do Senhor (Cena Domini). Aí se recorda o mandamento do amor, amai-vos uns aos outros como eu vos tenho amado - sobretudo no rito do lava-pés -; a instituição do Sacramento do amor, a Santíssima Eucaristia – maior de todos os sacramentos – e; finalmente, a instituição do sacerdócio ministerial católico que, nas palavras de São João Maria Vianney, é o próprio “amor do coração de Jesus”. Esse sacerdócio tem missões fundamentais, quais sejam, celebrar a Eucaristia até que o Senhor venha; ensinar o sagrado depósito da Fé apostólica e, presidir à Igreja como comunidade de amor e de salvação. Importante notar que o Cristo instituiu o sacerdócio na noite em que foi entregue e lavou os pés dos discípulos, para ensinar que assim devem comportar-se aqueles que, na Igreja, agem na pessoa de Cristo sacerdote. A segunda reunião solene, ainda deste primeiro dia, dá-se na Sexta-feira da Paixão, pelas três horas da tarde, com as Solenes Funções da Paixão do Senhor. Aí, numa liturgia grave, austera e, ao mesmo tempo solene, a Igreja reúne-se para contemplar e adorar o Mistério tão profundo do Pai que entrega Seu Filho por nós no Espírito Eterno; do Filho que Se entrega ao Pai no Espírito; e do Espírito Santo que repousava no Filho e, amorosamente, deixa que Este O entregue ao Pai na Cruz.
Esta liturgia conta com três partes: 1ª) a liturgia da Palavra, que se conclui com a solene Oração Universal; 2ª) a Adoração da Cruz, rito pelo qual, com profunda admiração, adoramos o Mistério da Cruz Salvadora do Senhor e 3º) o Rito da Comunhão, em que comungamos o Corpo do Cristo vivo: mesmo na Sexta-feira Santa, o Cristo “imolado, já não morre e, morto, vive eternamente”. Esta Sexta-feira santíssima é dia de jejum e de abstinência de carne em honra da Paixão do Senhor. Assim termina o primeiro dia.
Que o Senhor nos dê a graça de, com Ele, fazer da vida uma entrega de amor ao Pai e aos irmãos, até a entrega final, no momento de nossa morte. Amém.
Segundo Dia: Por nós, Jesus desceu à morte, consequência última do pecado meu e do mundo. Este é o dia mais grave, mais sóbrio e mais silencioso de todo o Tríduo: não há nenhuma reunião litúrgica oficial, solene. Não se pode comungar – não se pode distribuir a comunhão nem mesmo aos doentes; só se pode levar a comunhão em viático, a quem estiver às portas da morte. Neste dia, a Igreja celebra a descida de Jesus à morte.
Por nós, o Senhor nosso, Jesus Cristo, desceu ao mais baixo que o homem pode chegar: foi feito cadáver, foi feito total passividade, total derrota, entrando naquela triste situação em que a humanidade cai com a morte: “A Minha alma está prostrada na poeira; fui abandonado ao pó da morte!”
Neste dia, devemos meditar sobre o mistério da morte e encher-nos de consolo: porque o nosso Salvador entrou na morte, nem aí estaremos sozinhos: “Ainda que eu passe pelo vale da sombra da morte, nenhum mal eu temerei; Tu estás comigo; Teu bordão e Teu cajado me dão a segurança!”. A Igreja, unida à Santíssima Virgem Maria, espera, confiante, a Ressurreição do Senhor.
Este Sábado é ainda dia de penitência e é sumamente recomendável jejuar – é o jejum que prepara para a Celebração pascal. O Sábado Santo, chamado na Igreja Antiga de Grande Sábado, é dia de recolhimento, de piedoso silêncio. Não é, de modo algum, dia para dispersões ou diversões. Os cristãos esperam com devota reverência que passe o Sábado para, na Noite santa, reunirem-se em santa Vigília, a mais importante de todas as celebrações cristãs.
Terceiro Dia: Para nossa salvação, Jesus foi ressuscitado pelo Pai no Espírito. Na madrugada do Primeiro Dia após o Sábado, o Pai derramou o Espírito Santo sobre o Seu Filho morto, e O levantou da morte. Ressuscitado, Jesus vive uma Vida totalmente nova na Sua alma humana, agora totalmente glorificada, totalmente feliz e bem-aventurada; nova no Seu corpo, agora totalmente pleno de Vida divina, totalmente livre das leis que regem este mundo.
Triunfando sobre a morte, o Senhor Jesus Cristo nos abriu o caminho para a Vida. Aqueles que nEle creem, e são batizados, recebem o Seu Espírito Santo; aqueles que comem e bebem, em verdadeira comunhão, o Seu Corpo e o Seu Sangue na Santíssima Eucaristia, têm já em si esta Vida nova e, no Dia Final, ressuscitarão com Jesus e como Jesus.
É o que celebramos com uma Vigília santa na noite do Sábado para o Domingo. Uma longa vigília constituída de quatro partes:
1ª) a liturgia da Luz (com a solene bênção do fogo novo, símbolo do Espírito Santo em que o Senhor foi ressuscitado, do Círio pascal, símbolo do Ressuscitado, e o anúncio da Páscoa de Cristo e nossa). O Diácono proclama: “Eis a Luz de Cristo”, ao que responde a assembleia dos fiéis: “Demos graças a Deus”, dissipando-se as trevas da morte com a Luz irradiante que é o próprio Cristo glorioso; 2ª) a liturgia da Palavra (com nove leituras, que fazem presente o Mistério pascal); 3ª) a liturgia batismal (com a bênção da água e, se for o caso, o batismo e crisma dos catecúmenos que se prepararam durante a Quaresma e que, nessa noite, passam a integrar o Corpo Místico de Cristo); 4ª) a liturgia eucarística (a Missa de Páscoa, a partir do ofertório). Esta é a celebração mais importante e mais solene de todo o ano litúrgico.
Vivamos, intensa e integralmente, este santo Tríduo; quem assim se dispuser, celebrará, verdadeiramente, e com frutos espirituais, a Páscoa do Senhor, penhor da nossa páscoa eterna!
Comments