Hoje, 28 de outubro, é dia dos apóstolos Simão e Judas.
Há poucas informações sobre eles e aparecem sempre um ao lado do outro nas listas de apóstolos.
Mateus e Marcos descrevem Simão como cananeu; Lucas, como zelote.
Na língua hebraica, o verbo qaná significa zeloso, ardoroso, e pode ser aplicado tanto a Deus, zeloso por seu povo escolhido, quanto aos homens que ardem de zelo por Deus com dedicação plena, como foi Elias. Mesmo que Simão não pertencesse ao movimento nacionalista dos zelotes, era caracterizado pelo zelo à sua identidade judaica, a Deus, Seu povo e Sua lei.
Estaria, assim, no extremo oposto a Mateus, publicano, com uma atividade tida por impura: a de coletor de impostos. Isso mostra como Jesus não fazia distinção entre as pessoas e chamou os Seus discípulos das camadas sociais e religiosas mais diversas. Interessavam-lhe as pessoas, não os rótulos. E todos esses que Ele chamou viviam lado a lado, superando as possíveis dificuldades, porque Jesus era o motivo de coesão em quem todos estavam unidos. É uma lição para nós, que tendemos a ressaltar as diferenças em relação àqueles com quem convivemos, esquecendo que Jesus dá a força para vencer os conflitos.
Outro ensinamento que tiramos disso é que o grupo dos Doze é o núcleo da Igreja, na qual devem ter espaço todos os dons, pessoas e raças, todas as qualidades humanas estão em sua composição na comunhão com Jesus.
Quanto a Judas Tadeu, Mateus e Marcos o chamam simplesmente de Tadeu, e Lucas de Judas, filho de Tiago.
O sobrenome Tadeu é de origem incerta, provavelmente vem do aramaico taddà, que significa peito. Seria uma pessoa magnânima. Ou também pode ser a abreviação do nome grego Teodoro, Teódoto.
João menciona uma pergunta que Judas Tadeu fez a Jesus na Última Ceia: Senhor, por que te manifestarás a nós e não ao mundo? Nós, também hoje, formulamos uma pergunta parecida. Por que Jesus ressuscitado não se manifestou em toda a sua glória aos seus adversários, mostrando que o vencedor é Deus?
A resposta de Jesus foi misteriosa e muito profunda. Se alguém me ama, guardará a minha palavra e o meu Pai o amará e a ele viremos e nele estabeleceremos nossa morada.
Isso significa que o ressuscitado deve ser percebido também com o coração, de modo que possa estabelecer sua morada em nós. Ele quer entrar em nossa vida e por isso a sua manifestação implica corações abertos. Só assim é que O reconhecemos.
Judas Tadeu é autor de uma das cartas do Novo Testamento conhecidas como católicas, porque não são endereçadas a uma comunidade específica, como os Coríntios, os Filipenses, os Colossenses, os Tessalonicenses, mas a todas as igrejas. Esta carta de Judas é dirigida “aos que foram chamados, amados por Deus Pai e guardados em Jesus Cristo”, como diz o v. 9 do cap. 1.
Na carta, Judas alerta os cristãos com relação a pessoas que convertem a graça de Deus em pretexto para a própria licenciosidade e para corromper outros irmãos com ensinamentos errados, introduzindo a divisão na Igreja. Para essas ideias, ele dá o nome de alucinações e as compara com os anjos decaídos, dizendo que seus autores trilham o caminho de Caim. Caim foi o filho primogênito de Adão e Eva, que matou o próprio irmão Abel. Judas as aponta como árvores que não dão fruto, arrancadas pela raiz, ou a ondas bravias do mar a espumar a própria imprudência, ou, ainda, a astros errantes aos quais está reservada a escuridão das trevas para toda a eternidade.
Não somos acostumados a esse tipo de linguajar polêmico. Mas é certo que precisamos preservar a identidade da nossa fé neste mundo em que há tantas tentações e correntes. Sem esquecer a indulgência e o diálogo, com firmeza e perseverança.
O apóstolo, continuando, diz: Mas vós, amados, edificai a vós mesmos sobre a vossa santíssima fé, orai no Espírito Santo, guardai-vos no amor de Deus, pondo a vossa esperança na misericórdia de Jesus Cristo para a vida eterna. E procurai convencer os hesitantes. São palavras que se dirigem a nós hoje.
Vê-se, nesta epístola de Judas, como ele vive na plenitude a fé, com integridade moral, alegria, confiança e louvor, motivado pela bondade do nosso único Deus e pela misericórdia de Jesus.
Peçamos tanto a Simão como a Judas Tadeu que nos ajudem a redescobrir sempre e a viver incansavelmente a beleza da fé, sabendo dar um testemunho forte e ao mesmo tempo sereno dela.
Fonte: Bento XVI, Catequeses das Audiências Gerais
Comments