As informações a respeito de Mateus são muito escassas, de modo que temos de nos ater ao perfil que nos traça o Novo Testamento. Ele sempre aparece nas listas dos doze escolhidos por Jesus.
Seu nome vem do hebraico e significa “dom de Deus”. No primeiro Evangelho, escrito por ele mesmo, apõe-se ao nome Mateus o qualificativo publicano. De fato, ele é identificado com aquele homem que estava sentado na coletoria de impostos e que Jesus chamou, dizendo-lhe:
Segue-me.
A passagem que precede este chamado é a de um milagre de Jesus em Cafarnaum, próximo do Mar da Galileia. É possível que fosse ali que Mateus exercia o seu ofício, onde ficava a casa de Pedro, em que Jesus se hospedava com frequência. Essas constatações permitem algumas inferências.
Primeiro, Jesus acolhe no grupo dos seus amigos íntimos um homem que, de acordo com os conceitos da época, era considerado um pecador público. Tanto por manusear o dinheiro, considerado impuro por vir de pessoas que não eram israelitas, como por colaborar com uma autoridade estrangeira e opressora, cujos tributos eram determinados arbitrariamente.
Nos evangelhos, os publicanos são tidos por pessoas ricas, como no caso de Zaqueu, chefe dos publicanos. Tudo isto nos ensina que Jesus não exclui ninguém da Sua amizade. Aliás, Ele mesmo disse que quem precisa de médico é o doente e não o saudável, e que veio chamar os pecadores. Esta é a boa nova: a oferta da graça de Deus aos pecadores.
Trata-se de um paradoxo, pois os que parecem estar mais longe da santidade podem se tornar modelo de aceitação da misericórdia de Deus e, portanto, da salvação. Como Jesus disse daquele outro publicano que estava lá atrás no Templo, rezando e pedindo perdão por ser pecador. Eu vos digo que este último foi para casa justificado e não o outro, que era o fariseu que se vangloriava de sua perfeição moral.
Um outro aspecto interessante é anotado por São João Crisóstomo, Bispo de Constantinopla, segundo o qual apenas nos relatos de alguns dos que foram chamados é mencionada a atividade que exerciam. Pedro, André, Tiago e João são pescadores e ali na praia, nas suas barcas, foram chamados. Mateus está coletando tributos. Pescadores são pessoas simples e comuns, e cobradores de impostos, como já vimos, eram detestados pelos israelitas. Portanto, o chamado de Jesus chega também a pessoas de nível social menos favorecido, enquanto realizam suas tarefas comuns do dia a dia. Jesus nos surpreende lá onde estamos e nos chama.
Uma reflexão possível, ainda, inspirada na narrativa evangélica, é a resposta imediata de Mateus ao chamado de Jesus. Levantou-se e O seguiu. Isso significou deixar tudo, a sua fonte de renda segura, mas ele compreendeu que a familiaridade com Jesus não lhe permitia continuar exercendo atividades desaprovadas por Deus. Também hoje não nos podemos apegar a coisas incompatíveis com o seguimento de Jesus, como as riquezas obtidas com desonestidade, corrupção, etc.
O Evangelho diz que Mateus levantou e aí podemos ler o afastamento de uma situação de pecado em que se estava caído e a adesão a uma vida nova, na comunhão com Jesus.
Há uma referência histórica sobre Mateus que nos vem do historiador Eusébio, que escreveu: Quando Mateus, que inicialmente havia pregado entre os judeus, decidiu dirigir-se também a outros povos, escreveu na sua língua materna o Evangelho que anunciava; procurou assim substituir por escrito, para aqueles dos quais se separava, aquilo que eles perdiam com a sua partida.
Mateus, portanto, pelo seu evangelho, continua a anunciar também a nós a misericórdia de Deus, misericórdia que salva, levanta, renova.
Aprendamos com ele a nos levantar e a seguir Jesus com determinação.
Fonte: Bento XVI, Apóstolos
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