O Papa é Agostiniano. Qual o carisma próprio de sua Ordem? Vamos conhecer?
- Rejane Bins
- 9 de mai.
- 4 min de leitura

No seu site, a Província Agostiniana no Brasil explica que são três os pilares sobre os quais se eleva o carisma da Fraternidade Agostiniana: a via da interioridade (no encontro profundo com Cristo Mestre Interior); a vida em comunidade, com um destaque especial ao valor da amizade, tão caro para Agostinho e o serviço à Igreja onde ela mais necessitar.
Com efeito, o Carisma de uma Ordem religiosa é onde se condensa, se encarna ou se configuram os valores da Espiritualidade. Esses valores e os votos de obediência, pobreza, castidade e comunidade são vividos pelos agostinianos à luz da experiência de santo Agostinho.
A experiência humana e espiritual de Santo Agostinho pode ser sintetizada da seguinte forma: busca intensa da Verdade que é Deus (interioridade); e, tendo-O encontrado, a Ele dedicar-se inteiramente em comunhão com os irmãos (comunidade) e para os irmãos (serviço à Igreja).
Interioridade: A busca de Deus
A busca de Deus é o fio condutor da vida de Agostinho e se identifica com a busca da Verdade. Trata-se de uma atitude de fé; é uma realidade existencial; envolve mente e coração, em empenho constante de busca.
A principal via de busca indicada por Agostinho é a interioridade: ''Não saias fora de ti, volta-te a ti mesmo; a verdade habita no homem interior, e, ao dar-te conta de que tua natureza é mutável, transcende a ti mesmo'' (A verdadeira religião 72).
Somente quando se tiver encontrado a si mesmo, ensina Agostinho, quando se tiver reconquistado a própria humanidade perdida, livrando-a da escravidão de paixões transitórias, se poderá reencontrar também Deus e, daí, a felicidade. O exercício da interioridade agostiniana é, então, busca de libertação da escravidão das coisas (do materialismo e do hedonismo) e recuperação de si mesmo para poder se encontrar com Deus e viver em conformidade com a verdade por Ele revelada.
Comunidade: Comunhão de vida
Àqueles que querem participar de sua experiência de busca de Deus, Agostinho propõe o exemplo da primitiva comunidade cristã de Jerusalém, descrito nos Atos dos Apóstolos (2;4): formavam um só coração e uma só alma, tudo era comum entre eles e a cada um dava-se conforme suas necessidades. No início da Regra que escreveu para seus monges, Agostinho põe a razão da reunião em comunidades nestes termos: ''Em primeiro lugar – já que com este fim vos haveis congregado em comunidade – vivei unânimes em casa e tende uma só alma e um só coração orientados para Deus'' (Regra 3).
Vive-se, portanto, em uma unidade de desejos, de ideais e de projetos; respeito pelas exigências e pela dignidade da pessoa e a perfeita vida comum: são as três notas que caracterizam a comunidade agostiniana, que, na mente de Agostinho, quer ser sobre a terra um sinal da cidade celeste, imagem, ainda que pálida e imperfeita, da absoluta comunhão de amor existente entre as pessoas da Santíssima Trindade.
A comunhão agostiniana de vida encontra, por isso, sua manifestação na comunhão de bens. Nada é propriedade privada; tudo é da comunidade (cf. Regra 4), ou seja, antepõe-se o bem comum ao próprio (cf. Sermão 78,6), e este bem é Deus mesmo, a maior riqueza (cf. Sermão 355,2), desejado, buscado e partilhado por todos, em unanimidade.
Quando uma comunidade tem estas características, a obediência se torna colaboração em um projeto de comunhão e apoio recíproco, a pobreza torna-se partilha, a castidade torna-se meio para se dilatar o coração à acolhida e ao senso de fraternidade universal; o ‘peso’ da vida comum é superado pela amizade em Cristo que colabora na formação da personalidade, e faz crescer na verdadeira liberdade; a humildade (outro elemento fundamental da espiritualidade agostiniana), que está na base da vida comum, torna-se senso de responsabilidade.
Serviço à Igreja
Agostinho, com toda propriedade, além do título de Doutor da Graça que a Igreja lhe conferiu, bem poderia ser chamado Doutor da Unidade. Ele, de fato, empenhou todas as energias pela unidade da Igreja e para salvar a integridade da fé. Para ir ao encontro das necessidades da Igreja de seu tempo, sacrificou o desejo de uma vida retirada e quis que seus companheiros fizessem o mesmo (cf. Carta 48,2).
A comunidade agostiniana serve à Igreja sobretudo como sinal de unidade, primeiro pela unidade de sua própria comunidade, mestra de interioridade, de busca e encontro com Deus, promotora de comunhão. O religioso agostiniano, segundo o modelo do próprio Agostinho, é um filho exemplar da Igreja, e por isso, deve ‘sentir’ com a Igreja e estar pronto para socorrê-la em suas necessidades como a uma mãe (cf. Comentário aos Salmos 132).
Não é uma atividade específica que os caracteriza. Todo e qualquer apostolado é consonante com os Agostinianos, manifesta-se de várias formas: da catequese à pesquisa científica, de paróquias às universidades, da assistência em capelas às missões, da pregação às publicações, de creches a centros para a terceira idade e centros de recuperação de tóxico dependentes. A atividade que se assume é condicionada pelas necessidades da Igreja, como emergem de acordo com os tempos e lugares em que são assumidas.
O fundamento do Carisma
Segundo Agostinho, no penúltimo parágrafo de sua Regra (48): o fundamento do carisma é a caridade, o único e verdadeiro motivo para se levar adiante todo e qualquer empreendimento, O agostiniano, livre por ação da graça, recebe desta o dom da caridade, dom recebido já antes para que pudesse ser cristão, para tornar-se o que é.
Por tudo isso, a vida agostiniana está perfeitamente em harmonia com as experiências eremítico-contemplativa e apostólica, condensadas no carisma da Ordem.
Se você gostou de conhecer mais sobre o Papa Leão XIV, compartilhe! Deus abençoe você!
Imagem: mesma fonte
Comments