Nós conhecemos a história da humanidade. Deus criou o mundo, todas as coisas e, depois, criou o homem e a mulher. E viu que tudo era muito bom.
Mas o demônio instigou e seduziu nossos primeiros pais, que pretenderam também ser como Deus (Gn 3,3). Eles pecaram.
Porém, o amor infinito do Senhor estava ao seu lado e o Senhor logo prometeu que lhes daria a salvação, que viria através de uma mulher, pois disse à serpente: ela te ferirá a cabeça e tu lhe ferirás [apenas] o calcanhar (Gn 3,15).
Mais adiante, cerca de 700 anos antes de Cristo, pela boca do profeta Isaías, o Espírito assegurou: o próprio Senhor vos dará um sinal: eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho e o chamará Deus Conosco (Is 7,14).
O Natal é o cumprimento desta promessa, a prova da fidelidade de Deus, a consumação dos tempos.
Uma outra passagem de Isaías retrata isto com perfeição (Is 9, 1-6):
“O povo que andava nas trevas viu brilhar uma grande luz” . Desde Adão e Eva, o homem passara a viver a treva do pecado, da qual não podia se libertar por seus próprios meios, mas a promessa se tornou presença, a esperança virou realidade.
“Vós suscitais um grande regozijo, provocais uma imensa alegria; rejubilam-se diante de vós como na alegria da colheita.”
Pensemos na dureza do trabalho do agricultor, do homem do campo: limpa a terra, ara, semeia, rega, cuida ao longo de meses, enfrenta pragas e adversidades climáticas, naquela tensão sobre se vai obter o suficiente para viver até o ano seguinte, quando tudo recomeça. A alegria da colheita abundante era enorme, caía toda a tensão, a vida estava assegurada.
Assim deve ser a alegria do Natal, pela salvação assegurada. Intensa, profunda, deslumbramento e adoração ao mistério do amor do Pai, da encarnação e nascimento do Verbo.
Pelo mistério da humildade de Deus. O Todo Poderoso se torna pessoa humana. Prenúncio também do mistério da eucaristia, onde o Todo Poderoso se esconde nas aparências de pão e vinho.
Para viver este mistério do Menino, bebê frágil e dependente, mas sobre cujos ombros repousa a soberania, é preciso ser simples e humilde, como Nossa Senhora, São José, os pastores, até mesmo os reis magos.
Deus é simples e quer simplicidade de nós.
Ele se transformou em homem. Deus aceitou se submeter a um homem e a uma mulher, totalmente dependente deles, sujeitando-se a apreender deles todas as coisas neste mundo. Nós talvez até nos submetamos a Deus, pois é mais fácil do que nos transformarmos no outro, compreendê-lo a partir de suas vivências e experiências, de suas possibilidades, para aceitá-lo e fazê-lo crescer.
Este “Menino” que “nos foi dado”, sobre cujos ombros repousa a soberania, o Emanuel, o Deus Conosco se chama:
“Conselheiro Admirável, Deus forte,
Pai Eterno, Príncipe da paz”.
O Menino é o conselheiro de todos os momentos, o ombro de todos os momentos, sempre presente, nosso rochedo e salvação, a rocha, o refúgio (Deus Forte).
Fez-se Filho do Homem, para que pudéssemos nos tornar filhos de Deus (Pai eterno).
É o príncipe da paz – verdadeira, infinita – sem fim, que nada pode roubar, que subsiste na alegria, mas também no sofrimento. A paz de sentir-se amado. De sentir-se seguro, dentro do coração tão grande e sagrado de um bebezinho cujo império será grande, cujo reino não terá fim.
Será que temos esta capacidade de deslumbramento, de adoração verdadeira? De nos ajoelharmos diante da manjedoura e ver ali o Nosso Deus? O bebê que fixa seu olhar em nós e nos conhece a cada um? Um nascimento que podemos considerar acontecendo agora, porque, para Deus, não há tempo, tudo é presente? Qual a nossa posição naquele Israel? Somos daqueles que acorreram para a gruta e se deslumbraram?
Será que, acreditando na vinda do Messias, temos coragem de voltar ao nosso primeiro amor?
Assim como José, também nós vamos decidir hoje nos preencher de zelo em preparar o Natal de Jesus. Vamos acender nos corações as luzes já apagadas, vamos abrir os corações para a graça e a caridade, escancarar as portas ao Cristo que chega.
Com o Menino Jesus, recebemos o maior presente da história. Que presente vamos dar ao aniversariante?
Deus o abençoe!
Comments