O mês de julho é dedicado à devoção ao Preciosíssimo Sangue de Cristo, derramado para o perdão dos nossos pecados e para nos tornar novas criaturas, filhos do Pai Eterno no Seu Filho.
Infinito é o valor do Sangue do Homem-Deus, e infinita foi a caridade que o impeliu a derramá-lo desde o oitavo dia do seu nascimento, e depois, com superabundância, na agonia do horto (cf. Lc 22,43), na flagelação e na coroação de espinhos, na subida ao Calvário e na crucifixão, e, enfim, pela ampla ferida do seu lado, como símbolo desse mesmo Sangue divino que corre em todos os sacramentos da Igreja. Por isso, São João XXIII quis renovar na Igreja esse culto, afirmando que “não só é conveniente, mas é também sumamente justo que a ele sejam tributadas homenagens de adoração e de amorosa gratidão por parte de todos os que foram regenerados nas suas ondas salutares” (Carta Apostólica Inde a primis, sobre o culto ao Preciosíssimo Sangue).
As Escrituras nos ensinam reiteradamente o valor do sangue do Senhor.
Pedro afirma que fomos libertados pelo Cordeiro de Deus mediante “a aspersão do seu sangue” (1Pe 1, 2). E depois acrescenta: “Porque vós sabeis que não é por bens perecíveis, como a prata e o ouro, que tendes sido resgatados da vossa vã maneira de viver, recebida por tradição de vossos pais, mas pelo precioso Sangue de Cristo, o Cordeiro imaculado e sem defeito algum, aquele que foi predestinado antes da criação do mundo.” (1Pe 1,18-9).
Paulo enfatiza que Deus reconciliou consigo todas as criaturas, “por intermédio daquele que, ao preço do próprio sangue na cruz, restabeleceu a paz a tudo quanto existe na terra e nos céus” (Cl 1,20).
A Carta aos Hebreus ensina como podemos ter “ampla confiança de poder entrar no santuário eterno, em virtude do Sangue de Jesus” (Hb 10,19).
A missão de Cristo é de reconciliação. Foi João Batista quem apresentou Jesus dizendo: “Eis o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo 1,29). Estas palavras o sacerdote repete a cada Santa Missa, ao apresentar o Corpo do Senhor antes da comunhão sacramental.
É pelo Filho amado, “pelo seu sangue, [que] temos a Redenção, a remissão dos pecados, segundo as riquezas da sua graça” (Ef 1,7). Essa missão do Filho Bem-Amado a Igreja leva adiante, através do sacerdócio ministerial. Por meio dele, é o Cristo que nos perdoa dos pecados e lava a nossa alma com o Seu precioso Sangue.
No Livro dos Atos dos Apóstolos, Lucas narra que Paulo estava em Mileto e mandou chamar os anciãos de Éfeso. Então os exortou: “Cuidai de vós mesmos e de todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para pastorear a Igreja de Deus, que ele adquiriu com o seu próprio sangue” (At 20,28).
O Catecismo da Igreja Católica, no parágrafo 982, ensina que “ Não existe ninguém, por mais culpado que seja, que não deva esperar com segurança o seu perdão, desde que seu arrependimento seja sincero. Cristo, que morreu por todos os homens, quer que, em sua Igreja, as portas do perdão estejam sempre abertas a todo aquele que recua do pecado” (cf. n. 982).
Tal é o valor infinito do Sangue de Cristo, que “uma só gota pode salvar o mundo inteiro de qualquer culpa”, como recordou São João Paulo II, na oração do Angelus, em 1º de julho de 2001, repetindo palavras de São João XXIII na Carta antes mencionada.
Contemplar o Preciosíssimo Sangue de Cristo é mergulhar no imperscrutável mistério de amor e de misericórdia de nosso Deus Santíssimo, que, na Última Ceia, deixou seu testamento: “Isto é meu sangue, o sangue da Nova Aliança, derramado por muitos homens em remissão dos pecados” (Mt 26, 28). João nos deixou o ensinamento muito claro de Jesus a respeito: “Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes a carne do Filho do Homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós mesmos. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia. Pois a minha carne é verdadeiramente uma comida e o meu sangue, verdadeiramente uma bebida. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele” (Jo 6,53-56).
Seguindo o mandado do Senhor, em cada Santa Missa, a Igreja atualiza e eterniza esse sacrifício expiatório pela redenção da humanidade. Na Eucaristia, recebemos o Corpo, o Sangue, a Alma e a Divindade de Jesus. É o ensinamento de Paulo, na mais antiga passagem que temos: “O cálice de bênção, que benzemos, não é a comunhão do Sangue de Cristo? E o pão, que partimos, não é a comunhão do corpo de Cristo? Do mesmo modo, depois de haver ceado, tomou também o cálice, dizendo: Este cálice é a Nova Aliança no meu sangue; todas as vezes que o beberdes, fazei-o em memória de mim. Portanto, todo aquele que comer o pão ou beber o cálice do Senhor indignamente será culpável do corpo e do sangue do Senhor ” (1 Cor 10,16-17.22; 1 Cor 11, 25-7).
É pelo Sangue de Cristo, alimentados e fortalecidos, que “os sobreviventes da grande tribulação entraram no santuário; lavaram as suas vestes e as alvejaram no sangue do Cordeiro” (Ap 7,14).
É por ter derramado seu sangue que Jesus venceu o pecado e a morte, “Está vestido com um manto tinto de sangue, e o seu nome é Verbo de Deus. [...] Um nome está escrito sobre o seu manto: Rei dos reis e Senhor dos Senhores” (Ap 19,13-16).
Com a fé fortalecida pela bênção da Palavra, que nos dá testemunho do valor do Sangue do Cordeiro, pelo ensinamento da Igreja, e iluminados pelo Espírito Santo, somos todos convidados a viver este mês de julho penetrados pelo Sangue do Cristo, para com ele sermos restaurados de nossas feridas e levantados de nossos pecados.
Reflitamos sobre tamanho bem que o Senhor nos concedeu, sejamos agradecidos e o glorifiquemos pela devoção, a fé, e, sobretudo, por nossas boas obras.
Deus abençoe!
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