Neste final de semana, a Igreja celebra a Solenidade da Santíssima Trindade: Pai e Filho e Espírito Santo.
O Pai é a fonte da Divindade. O Filho é o Verbo, imagem do Pai, dEle gerado desde toda a eternidade, e isso significa que recebeu dEle o Seu ser. O Espírito Santo é o amor do Pai e do Filho, e dizemos que procede do Pai e do Filho.
Mesmo que consigamos esboçar essas realidades, a Trindade se mantém um mistério insondável para a inteligência do ser humano.
Já Santo Agostinho falava disso. Uma ocasião, andando pela areia da praia, narra ele que submergia em pensamentos profundos e altíssimos que se elevavam ao céu. Entre seus raciocínios, pensava no mistério da Santíssima Trindade.
“Como é que pode haver três Pessoas distintas – Pai, Filho e Espírito Santo – em um mesmo e único Deus?”
Ele avistou, de repente, um menino com um baldinho, que ia até a água do mar, enchia o seu pequeno balde e voltava, despejando a água em um buraco na areia.
Santo Agostinho, observando atentamente o menino, perguntou-lhe: O que estás fazendo?
O menino, com grande simplicidade, olhou para Santo Agostinho e respondeu: Coloco neste buraco toda a água do mar!
Diante da inocência do menino, o santo lhe sorriu e disse: Isto é impossível, menino. Como podes querer colocar toda essa imensidão de água do mar neste pequeno buraco?
O anjo de Deus o olhou então profundamente e lhe disse com voz forte: Em verdade, te digo: é mais fácil colocar toda a água do oceano neste pequeno buraco na areia do que a inteligência humana compreender os mistérios de Deus!
Nós continuamos tentando entender a Trindade, e, procurando explicá-la, utilizamos a analogia, partindo de nossas categorias humanas. Mas mesmo a linguagem técnica, teológica, é apenas aproximativa da verdade.
Então, podemos muito mais nos dedicar a viver a Trindade Santa, como fonte do ser e da vida, na fé, em amor, adoração, gratidão e louvor, e bem menos nos preocupar em penetrá-la com nosso intelecto humano e limitado.
Nesta perspectiva, o Pai não é alguém distante, sentado eternamente em um trono, com olhar perscrutador, severo e frio. O Pai é percebido como um bom pai, cuja intimidade é fonte de alegria, ternura, confiança, segurança, paz e coragem. O Pai é olhado por nós como o nosso Abba, como disse Jesus, o Paizinho. Esse Pai amado, misteriosamente, como que sofre quando palmilhamos os caminhos do filho pródigo do Evangelho, e se alegra ao voltarmos arrependidos para casa. A alegria dele repercute por todas as dimensões dos céus, na festa do nosso retorno.
O Filho, o Senhor Jesus Cristo, é Aquele que se fez nosso irmão, assumindo nossa carne e todo o sofrimento humano para nos resgatar da dominação do Maligno. É o único Senhor que liberta e salva, que deu a vida por nós, ressuscitou glorioso e vive no meio de nós: ouvindo, curando e continuamente salvando. É Aquele cujo Coração se alegra quando os irmãos são íntimos, fraternos e solidários. Mas sangra, como sangrou na cruz, quando nos recusamos abandonar os nossos lixos: da mentira, da injustiça, da competição perversa, do egoísmo, da preguiça, do hedonismo a todo custo.
O Espírito Santo é o nosso companheiro, que habita em nós, mais íntimo de nós do que nós mesmos. Aquele que continuamente nos impulsiona para o bem e torna real, experimentável, a presença do Senhor no meio de nós. Advoga constantemente por nós, com “gemidos inenarráveis”. Com Ele, a vida se transforma, é inundada pela alegria da comunhão com a Trindade. Superamos as fronteiras do egoísmo. Passamos a amar a todos, sem discriminação, simplesmente porque Deus os ama incondicionalmente. O Espírito Santo é o Paráclito, o amor misericordioso de Deus, que intercede por nós diante da própria justiça de Deus. É Ele quem renova todas as coisas. Por intervenção dele, o Filho assumiu a condição humana no seio da Virgem Mãe bendita e amada. É aquele Dom que o Senhor Jesus Cristo nos prometeu antes de voltar ao Pai. Promessa cumprida em Pentecostes, que acabamos de celebrar no último final de semana.
Enfim, a Santíssima Trindade, no amor eterno do Pai e do Filho e do Espírito Santo – o Amante, o Amado e o Amor, como Santo Agostinho também ensinou, é o modelo de comunhão para todos nós, nossas famílias, nossas comunidades e paróquias, nossa sociedade e todas as nações deste planeta Terra.
Por isso, ao fazer, por graça, a experiência do amor do Senhor, o impulso espontâneo que emerge do fundo de toda pessoa que foi batizada é o de bendizer, agradecer e louvar, mergulhando no mistério da ternura infinita do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Aí, a graça do nosso batismo se manifesta viva.
Esta solenidade, portanto, nos convida, convida você que está lendo este texto, a fazer esta experiência e a imergir no Amor Trinitário.
Deus o abençoe!
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