A RESSURREIÇÃO DE JESUS: razões para crer.
- Rejane Bins
- 19 de abr.
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Atualizado: 19 de abr.

A ressurreição de Jesus é objeto de fé pelos cristãos há mais de dois mil anos; no entanto, como outrora, novamente é contestada na modernidade e na pós-modernidade. O homem moderno submete tudo à sua avaliação e aceita aquilo que lhe parece ser útil, pois predominam o utilitarismo e o relativismo. Também a ressurreição de Jesus de Nazaré foi questionada, alegando-se que é um mito e não real, que é narrada com contradições, que o corpo do Crucificado foi levado de sua sepultura, que as ditas testemunhas estavam apenas “vendo coisas" ou que se cuidou de uma percepção interior.
Na busca das razões de minha esperança e da minha fé, foi necessário enfrentar esses questionamentos. Aqui compartilho, brevemente, por que motivos continuo acreditando na ressurreição de Jesus.
A ressurreição de Jesus é fundamento da fé cristã, a tal ponto que Paulo afirmou: “Se Cristo não ressuscitou, então é vã a nossa pregação, é vã a vossa fé” (I Cor 15,14).
Ora, enquanto a morte de Jesus foi atestada na história, ninguém esteve presente à sua ressurreição. Como crer que ela aconteceu?
Exsurge gritante, num primeiro momento, que a experiência feita pelos homens simples que a testemunharam foi forte o suficiente para levá-los a reconhecer nAquele que lhes apareceu o Jesus com quem conviviam, numa condição diferente da anterior, porque definitiva e gloriosa, paradoxal, mas absolutamente real. Por isso, não se enquadra bem no pensamento iluminista, que busca encaixar tudo na experiência. A ressurreição não contradiz a ciência, apenas supera o que se conhece e se palpa.
Ocorrida e testemunhada, a Igreja, desde suas colunas, compreendeu que se tratava do cumprimento das promessas do Antigo Testamento. Se a morte de Jesus fora prefigurada na linguagem do Servo Sofredor (de Isaías 53), a ressurreição também fora cantada pelo salmista:
“A minha carne repousará na esperança, porque não abandonarás a minha vida na mansão dos mortos, nem permitirás que teu Santo sofra a corrupção” (Sl 16,9,11, Septuaginta).
Pedro, no primeiro discurso, aplicou esta passagem ao Cristo, compreendendo que não se falava de Davi, que morrera e cujo sepulcro era conhecido (At 2,26-28), denotando a época primitiva em que tal anúncio se fez. A Igreja nascente também reportou ao que dissera o Mestre, fazendo, por três vezes, a proclamação de sua paixão, morte e ressurreição. O mesmo Jesus que concluiu a Revelação Pública afirmando, por João: “Eu sou o Primeiro e o Último, e o que vive. Pois estive morto e eis-me de novo vivo pelos séculos dos séculos” (Ap 1,17).
Por seu turno, Paulo, em verdadeira e primitiva profissão de fé, em I Cor 15, transmitiu-nos aquilo que recebera (15,3), ou seja, que já estava no depósito da fé, e foi aquilo que pregou e que os outros também pregavam (15,11) desde o início, por volta dos anos 30: que Cristo morrera por nossos pecados, fora sepultado, ressuscitara ao terceiro dia, segundo as Escrituras (portanto, segundo a promessa), aparecera a Cefas (ao chefe da Igreja de Cristo – Mt 16, 18-19; Jo 21,15-17, Lc 22,32) e aos Doze (as colunas).
Nos Evangelhos, é verdade, há pequenas diferenças nas narrativas das aparições, porque provêm de tradições diversas. Mas o núcleo é o mesmo:
Jesus ressuscitou, o sepulcro foi encontrado vazio, Ele apareceu aos apóstolos e a outros.
Sabe-se que o sepulcro vazio não é prova da ressurreição, mas é indício de confirmação, ou o corpo do Nazareno teria sido achado lá naquele túmulo. Aliás, na mentalidade da época, não seria absolutamente crível anunciar a ressurreição se o corpo estivesse no túmulo.
Por conseguinte, comunica-se a experiência intensa da ressurreição. Se, num primeiro momento, os que o viam não O reconheciam, se há como que um reconhecimento a partir da voz, do modo de olhar, porque o Corpo Glorioso não é idêntico, ele ainda é corpóreo (as chagas são tocadas, Jesus Cristo come peixe, parte o pão), mesmo que com novas propriedades: não submetido às leis de espaço e tempo.
As testemunhas não vivem uma experiência simbólica ou meramente subjetiva, mística, no âmbito interior, uma contemplação, inverificável experimentalmente, mas real, concreta, têm encontros com características de historicidade. Tomé, inclusive, não acreditou nos outros dez, precisou ver, ouvir, tocar. Foi o fato que o convenceu, não a palavra dos outros ou a fé.
Eventual invenção sobre a ressurreição conduziria a narrativas idênticas, para não serem postas em dúvida. Se a descoberta do túmulo vazio fosse inventada, os autores da estória nunca teriam colocado como primeiras testemunhas as mulheres.
A verdade, todavia, é a da descrição autêntica das experiências vividas. Jesus Cristo é o Vivente e o Vivificante (I Cor 15, 45), é corpóreo, não é um espírito (Lc 24,36-43), sabem que é Ele e não precisam perguntar de quem se cuidava (Jo 21,12). Ressuscitou verdadeiramente, o que levou os discípulos até mesmo a abandonar a arraigada tradição do sábado hebraico, substituindo-o pelo domingo, dia do primeiro encontro com o Ressuscitado.
Também é fator de convencimento o martírio dos apóstolos, exceto João. (Martírio, sabe-se, quer dizer testemunho). E ainda o martírio de tantos que morreram por sua fé em que Jesus de Nazaré fora morto e ressuscitara para nos dar vida nova.
Inácio de Antioquia, discípulo de João, a caminho do martírio, sob Trajano, por volta do ano 107 d.C., escrevia à Igreja de Esmirna:
“Eu porém sei e dou fé que Ele, mesmo depois da ressurreição, permanece em Sua carne. Quando se apresentou também aos companheiros de Pedro, disse-lhes: Tocai em mim, apalpai-me e vede que não sou espírito sem corpo. De pronto n’Ele tocaram e creram, entrando em contato com Seu Corpo e com Seu espírito. ... Após a ressurreição, comeu e bebeu com eles, como alguém que tem corpo, ainda que estivesse unido espiritualmente ao Pai.”
De fato, o testemunho não seria suficiente para fundamentar a Igreja, se estivesse despregado da força da verdade.
A ressurreição é um acontecimento que parte da história, onde deixa como que um rastro, não é um mito ou uma concepção dos apóstolos ou da comunidade pós-pascal, porém inicia uma nova dimensão, escatológica, do homem definitivo, aquele que deve "ser", no amor total; manifesta a vitória sobre a morte que escravizava a humanidade, em razão do pecado.
Jesus ressuscitou, não como Lázaro ou como o filho da viúva de Naim, mas para nunca mais retornar à morte. E é fonte de vida e de fé também para o homem de hoje: primícias dos que morrem, penhor da herança de vida eterna para o ser humano. Se Sua morte é prova extrema de amor, a ressurreição é que revela a verdade desse testemunho de caridade. É a prova segura que Deus deu a respeito de Jesus, como refletia Paulo, no Areópago (At 17,31).
Permito-me concluir, parafraseando a Igreja primitiva: JESUS RESSUSCITOU! Aleluia! Em verdade ressuscitou! Aleluia!
Feliz e abençoada Páscoa!
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