Chegamos, neste dia 1º de novembro, a mais uma celebração de Todos os Santos.
Sabemos que Deus é amor, infinito, eterno, uno e trino. O amor, por sua própria natureza, leva à união, e assim a Trindade Santíssima é Comunhão.
Jesus, por amor, imolou-se para que todos os homens pudessem unir-se a Deus, para serem um como Ele e o Pai são Um. Todos os que são batizados, como Ele mesmo ordenou ( Mt 28, 19), são chamados a ser santos (“Fomos eleitos por Deus para sermos santos”, Ef 1,4) e a ser comunhão, espelhando-se na Trindade.
Há um mistério da união pessoal de cada homem com a Trindade divina e com os outros homens, O MISTÉRIO DA COMUNHÃO DOS SANTOS. Portanto, o que nos une é maior do que as obscuridades deste mundo. Tudo o que fizermos, o menor ato de amor, tem dimensão de eternidade.
Foi estabelecida uma nova relação entre o homem e Deus, por Cristo. Esta relação é comunicada nos sacramentos, levando a um novo relacionamento dos homens entre si, a uma particular unidade dos membros do Corpo Místico de Cristo, "um povo congregado na unidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo" (Lumen Gentium, n. 4), e dotado dos meios adequados à união visível e social.
A Comunhão dos Santos, portanto, é a Igreja. Somos uma família, de que fazem parte os que peregrinam na terra, os que estão na expectativa, no Purgatório, e os justos do céu, os santos.
Essa família é enriquecida com uma comunhão dos bens sagrados que Cristo deu à Sua Igreja: Comunhão de fé, a mesma que foi recebida dos apóstolos. Comunhão dos sacramentos. Comunhão dos carismas que o Espírito Santo distribui para a edificação pessoal e de todos. Comunhão de bens, diante dos mais necessitados. Nos Atos dos Apóstolos, lemos que os primeiros cristãos colocavam tudo em comum (At 2,44).
Assim, o menor dos atos de caridade irradia em benefício de todos, vivos ou mortos, da mesma forma que todo pecado prejudica a comunhão. Em I Cor, 12, 26-27, São Paulo lembra que, se um membro sofre, todos compartilham seu sofrimento; se se alegra, todos compartilham a alegria.
O Papa Paulo VI escreveu o Credo do Povo de Deus e o concluiu assim: “Cremos na comunhão de todos os fiéis de Cristo, a saber: dos que peregrinam sobre a terra, dos falecidos que ainda se purificam e dos que gozam da bem-aventurança do céu, formando todos juntos uma só Igreja. E cremos igualmente que nesta comunhão dispomos do amor misericordioso de Deus e dos seus Santos, que estão sempre atentos para ouvir nossas orações como Jesus nos garantiu: Pedi e recebereis”.
Somos uma única Igreja, classicamente chamada de militante, padecente e triunfante. A união entre uns e outros não se interrompe pela morte, mas se fortalece (Lumem Gentium, n. 49). Como dizia Santa Terezinha: “Passarei meu céu fazendo bem na terra.”
Se somos um só corpo e uma só Cabeça, temos o desejo de comunicação mútua. E é motivo de júbilo para o bom Deus e para as almas no céu tornar as relações entre os membros do corpo do Filho mais vivas, frequentes, ricas de bem. Assim, em consequência da Comunhão dos Santos, todos os cristãos recebem as graças de cada Missa sobre a Terra, quer se celebre perante milhares de pessoas ou nem haja assistentes. Em qualquer caso, a terra e o céu se unem para entoar com os Anjos do Senhor: Santo, Santo, Santo.
Na Solenidade de Todos os Santos deste ano de 2021, parece oportuno lembrarmos o que Deus Pai explicou a Santa Catarina de Sena, segundo ela relata no seu livro “O Diálogo”, sobre a felicidade dos santos que já estão no céu e sobre a união com os que ainda não chegaram lá:
“Também o homem justo, ao encerrar sua vida terrena no amor, já não poderá progredir na virtude. Para sempre continuará a amar no grau de caridade que atingiu ao chegar até mim. Também será julgado na proporção do amor. Continuamente me deseja, continuamente me possui: suas aspirações não caem no vazio. Ao desejar, será saciado; ao saciar-se, sentirá ainda fome; distanciando-se, assim, do fastio da saciedade e do sofrimento da fome. Os bem-aventurados gozam da minha eterna visão. Cada um no seu grau, de acordo com a caridade em que vieram participar de tudo o que possuo. ... Colocados entre os anjos e santos, com eles se rejubilam, na proporção do bem praticado na terra. Entre si congraçados na caridade, os bem-aventurados de modo especial comunicam-se com aqueles que amaram no mundo. Realizam-no, naquele mesmo amor que os fez crescer na graça e nas virtudes. Na terra, ajudavam-se uns aos outros; tal amor continua na eternidade. Conservam-no, partilham-no profundamente entre si; com maior intensidade até, associando-se à felicidade geral. Não penses que a felicidade celeste seja apenas individual. Não! Ela é participada por todos os cidadãos da pátria, homens e anjos. Quando chega alguém à vida eterna, todos sentem sua felicidade, da mesma forma como ele participa do prazer de todos. Não no sentido que os bem-aventurados progridam ou se enriqueçam, pois todos são perfeitos e não precisam de acréscimos. É uma felicidade, um prazer, um júbilo, uma alegria que se renova interiormente, ao tomarem eles conhecimento da riqueza espiritual do recém-chegado. Todos compreendem que ele foi elevado da terra à plenitude da graça por minha misericórdia; naquele que chegou, todos se alegram, gratos pelos dons de mim recebidos. O novo eleito, igualmente, sente-se feliz em mim e nos bem-aventurados, neles contemplando a doçura do meu amor. Em seus anseios, os eleitos clamam continuamente diante de mim em favor do mundo inteiro. Suas vidas haviam terminado no amor fraterno; continuam no mesmo amor. Aliás, foi exatamente por tal caridade que passaram pela porta, que é meu Filho. Os bem-aventurados continuam no céu, eternamente, aquele mesmo amor com que encerraram a vida terrena. Conformam-se inteiramente à minha vontade, só desejam o que eu desejo. Chegando ao momento da morte em estado de graça, seu livre arbítrio fixa-se no amor e eles não pecam mais. Suas vontades identificam-se com a minha. ... Anseiam em ver-me glorificado por vós, viandantes e peregrinos que sois em direção à morte. Aspirando por minha honra, querem vossa salvação e sempre rogam por vós. De minha parte, escuto seus pedidos naquilo em que vós, por maldade, não opondes resistência à minha bondade."
Percebemos que todos os que nos precederam na morte, com o sinal da fé, continuam por isto a amar-nos, até com um amor maior, mais puro e vivo, são membros livres e inteligentes do mesmo Corpo de Cristo a que pertencemos. Anima-os intenso desejo de nos ajudar, para superarmos as provas da vida e chegarmos, com eles, à Pátria Trinitária.
Todos são alimentados por idêntica vida divina. Os santos no céu já gozam da plenitude da vida, e nos amam muito mais. Nós os amamos pouco, mas o amor busca a união perfeita. Como, já no céu ou ainda no purgatório, eles intercedem por nós, nós também podemos e devemos interceder uns pelos outros. O individualismo, tão difundido atualmente, impede o ideal da comunhão, que é – segundo João Paulo II –, “a capacidade de sentir o irmão de fé na unidade profunda do Corpo Místico, isto é, como um que faz parte de mim, para saber partilhar as suas alegrias e os seus sofrimentos, para intuir os seus anseios e dar remédio às suas necessidades, para oferecer-lhe uma verdadeira e profunda amizade” (João Paulo II. Carta Pastoral Novo Millennio Ineunte, n. 43).
Nessa ordem da comunhão dos santos, temos um membro eminente, de quem não podemos nos esquecer: Nossa Senhora, Mãe da Graça. À plenitude da graça que Deus lhe deu, correspondeu com a plenitude da fé. Foi a única que acreditou enquanto estava acontecendo a salvação na história, entre o início da Paixão e a Ressurreição de Jesus. Foi Ele mesmo quem constituiu a maternidade e a intercessão de Maria Santíssima em relação a nós: Eis aí tua mãe; eis aí teu filho. A palavra de Jesus cria e faz existir o que diz, como na transubstanciação: “Isto é meu corpo” e o pão se faz Corpo. Eis tua mãe, e ela se torna mãe da humanidade.
De modo singular, pela obediência, fé, esperança e ardente caridade, Nossa Senhora cooperou na obra do Salvador, para a restauração da vida sobrenatural das almas. A Mãe possui uma capacidade de amar sem limites. É espelho e membro da Igreja de Seu Filho, que ajudou a gerar junto da cruz, com a qual rezava, pedindo o Espírito Santo, e pela qual reza ainda hoje, na glória dos céus.
Por isso, nos dirigimos novamente hoje à Mãe da Igreja e nossa, e pedimos piedade. Mudai-nos, Senhora, de pecadores em santos. Obtende-nos a graça de ser humildes, desapegados da terra e unidos à divina vontade e a todos os membros da Igreja em todos os tempos, estados e situações, um só corpo e uma só alma. Fomentai em nossos corações a ânsia de um impulso cheio de fortaleza, que chegue a todos os lugares da terra, solidários, cooperadores na missão de difundir a verdade e a paz do Senhor, e chegue aos céus, pedindo pela libertação de todos os irmãos que ainda estão no Purgatório, em unidade no amor.
Virgem Santíssima, rogai por nós.
Amém.
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